Sobre Gustav Klimt: Biografia e Produção Artística

“A arte Imita a Vida? Ou será que A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida.” (Oscar Wilde, 16/10/1854 -30/11/1900, dramaturgo, escritor e poeta irlandês).

“Existem tantas coisas que são ditas sem uma palavra. Existem tantas coisas que são ditas com olhares e gestos e sons.” (A arte de correr na chuva).

“Não há nenhum autorretrato meu. Mão me interessa a própria imagem como objeto do quadro, apenas outras pessoas, especialmente femininas, mas ainda me interessam outros fenômenos”.

“O que queira saber sobre mim – como artista, digno unicamente de atenção – deverá reconhecer neles quem sou e, então, o que quero”.

“Os jovens já não me compreendem. Vão a outra parte […]. É um pouco cedo para me ocorrer isso que, em geral, é o destino de todo artista. A juventude sempre quer […] derrubar o já consolidado. Mas nem por isso vou mostrar-me mal humorado com eles”

 

Gustav Klimt (14/07/1862 – 11/01/1918), nascido em Baumgarter (próximo a Viena), ainda no Império Austro-Húngaro, foi o segundo dos sete filhos. Em seu quarto ano, em 1866, ocorreu a Guerra Austro-Prussiana, na qual os austríacos perdem o domínio do mundo germânico para a Prússia, sendo que sua família não fora tão afetada. Filho de Ourives fora admitido aos 14 anos com um trabalho em desenho, segundo um molde de gesso, de uma cabeça feminina da Antiguidade, na Academia de Artes Aplicadas (ligada ao “Museu Austríaco Imperial e Real de Arte”, e à Indústria de Viena). Adquiriu a prática de desenho ornamental, além de cursos sobre perspectiva, teoria de projeções e teoria do estilo. Foi o único aluno da Escola das Artes Decorativas, no século XIX, que conseguiu dar início a uma grande carreira artística, impulsionado pelos seus professores e pelo diretor do Museu. O trio formado por Klimt, Ernst Klimt (seu irmão) e Matsch fundou a Künstlercompagnie (Companhia dos Artistas, de 1893 a 1891) aproveitando-se do bom momento de expansão nas construções. Através da empresa Fellner und Hellmer, especializada na construção de teatros, a Companhia dos Artistas conseguiu inúmeros trabalhos.

Sua carreira, influenciada por outras escolas, transitou por algumas fases, tornado-a posteriormente a sua arte singular e genuína, advinda de uma alma inquieta, multidimensional e essencialmente livre. Sua pintura abandona o estilo historicista após contatos com outros estilos e movimentos artísticos, e se torna ao final próxima ao simbolismo.

Inicialmente, suas obras eram naturalistas e influenciadas pelo barroco, sendo que Klimt nutria profunda admiração pelo barroquismo historicista de Hans Markat (1840-1884). Suas pinturas possuíam um caráter historicista (ou histórico-realista) num contexto paradoxal de Viena, representando sua realidade e ilusão, auge e decadência. Nesta época foram confeccionados os desenhos para “DIJUBO PARA LA ALEGORIA DA TRAGEDIA” (189697)

e A ALEGORIA DA ESCULTURA” (1889)

Assinou a decoração do teto e das escadarias laterais do imponente Teatro Municipal de Viena (STAIRCASE WITH THEATRE IN TAORMINA, 1884 ),

além de ter finalizado o projeto de decoração do Museu de História da Arte da cidade (INTERIOR OF THE KUNSTHISTORISCHES MUSEUM IN VIENNA, DETAIL DEPICTING ARCHWAY)

 

e INTERIOR OF THE KUNSTHISTORISCHES MUSEUM, VIENNA DEPICTING ARCHWAY WITH SPANDREL DECORATION ),

… além de elaborar obras como a MINERVA OR PALLAS ATHENA, 1898

Era, portanto, quase uma espécie de muralista oficial, filiado à Sociedade dos Artistas Vienenses. Também se revelou como retratista oficial, como demonstrado em muitas de suas obras, e também comprovado nos estudos dos retratos das esposas e filhas dos magnatas vienenses (PORTRAIT OF A LADY, 1890-91),

… o que lhe rendera muitas encomendas. No período de 1982 a 1896, as mortes repentinas de seu pai e de seu irmão o abalam. Klimt se encarrega de sua família e do irmão. Após a morte do irmão, intensifica sua relação com a irmã de sua cunhada, a Sra Emilie Flöge.

… retratada em mais de uma pintura.

Apesar de uma relação bem próxima, nunca se casaram, embora fossem íntimos, compartilhando vínculos de amizade. Chegou a passar temporadas de férias com a família Flöge, o que inspirou algumas pinturas de paisagens visitadas. A Companhia de Artistas se desfaz, mas Klimt colabora com Matsch em uma encomenda para a Universidade de Viena.

Em 1894, recebeu a incumbência de pintar três grandes painéis para o teto do auditório da Universidade de Viena, representando os três cursos da faculdade, a Teologia e Filosofia (1989-1907),

a Medicina (1901-07)

 

e a Jurisprudência (1889-1907)

Os professores e diretores da Universidade de Viena ficaram atordoados. Acharam que aquilo era uma provocação, um emaranhado caótico e sem sentido de imagens, algumas delas supostamente beirando a pornografia. Ao abandonar o olhar realista e adotar os maneirismos da art nouveau, Klimt provocou duplo espanto entre os tradicionalistas. Embora fossem solicitadas as substituições, o ministério da cultura as manteve.

Em 1903, durante uma viagem pela Itália, descobre o esplendor dos mosaicos bizantinos de Ravena. Com a influência de outros movimentos, suas pinturas tonaram-se conhecidas por seus padrões de fundo de ondas e linhas, utilizando-se de cores translúcidas em algumas obras, e superfícies planas sem sombras, num movimento artístico de vanguarda vienense. Em suas obras surgem os motivos geométricos repetidos, deixando aparecer apenas algumas partes essenciais realistas, que permitem o seu entendimento. Frequentemente é usada uma cobertura bastante cerrada, inclusive com mosaicos bizantinos prateados ou dourados, influência de sua filiação de ourives, sobretudo na denominada “fase dourada” entre 1905-08, descrita mais abaixo, onde o realismo e a abstração se confrontam.

Ainda posteriormente, em 1908, viaja pela primeira vez a Paris, onde toma contacto com as obras de Toulouse-Lautrec e com o fauvismo, sendo que a pintura dos pós-impressionistas passa exercer influência em suas obras. Imprimiu mais liberdade ao seu estilo, abandonando modelos geométricos, e o excesso de decorativismo em suas obras (1909-13). Neste período sua pintura triunfa na Europa. Apadrinha artisticamente jovens pintores (Egon Schiele e OsKar Kokoschka). Em 1910 expõe na 9º Bienal de Veneza, e em 1911 recebe o primeiro prêmio da Exposição Universal de Roma. Posteriormente recebeu influência do cubismo, movimento recentemente surgido. Também, influenciado pelo expressionismo, abandona os motivos geométricos e a suntuosidade do ouro. Por fim, após o falecimento de sua mãe em 1915, sua paleta torna-se mais sombria. Após anos de debate com as instituições oficiais, em 1917 é eleito membro de honra da Academia de Belas Artes.

Um adendo pertinente.

Cabe a contextualização de que Viena seria considerada o berço de três grandes pensadores e suas escolas psicoterápicas – a Psicanálise de Sigmund Freud, a Psicologia do Desenvolvimento Individual de Alfred Adler, e a Logoterapia de Viktor Frankl – numa época que intersecciona a vida de Klimt.

Muitas das pinturas de Gustav Klimt procuram retratar a beleza da mulher em seus variados aspectos de maneiras diferentes. Tais obras de Klimt descreviam a mulher como uma femme fatale (HYGÉIA, 1901),

… como a representação do feminino, do papel materrno (HOPE I, 1903)

… e também como amoroso, sendo que muitas de suas pinturas de mulheres também incidiram sobre a importância da sexualidade na vida (WATER SERPENTS II, C.1907)

NUDA VERITAS, 1899

As pinturas de Klimt de mulheres foram muitas vezes escandalosamente belas e sensuais, chocando os moralistas conservadores e os artistas tradicionais de sua época. No entanto, também o tornava uma escolha popular entre os burgueses e colecionadores de arte que gostavam de fazer uma declaração em suas casas para esposas e filhas, encomendando obras do pintor.

Outra polêmica teve início em 1900, quando Gustav Klimt, já rompido com a conservadora Sociedade dos Artistas Vienenses, passara a dirigir uma entidade dissidente, a Secessão de Viena. Ainda mais tarde, livre das amarras oficiais, Klimt deu prosseguimento à sua carreira com uma dose ainda maior de liberdade. Deixou a Secessão para, com outros colegas, fundar o chamado Grupo Klimt. Apesar do escândalo dos painéis para a Universidade, das rupturas com movimentos artísticos conservadores, e das obras femininas polêmicas, tornou-se o artista predileto da sociedade local, destacando-se como um retratista original, especializado em pintar rostos femininos envoltos em uma esmerada ornamentação, o que viria a se tornar uma marca registrada.

Seus trabalhos mais famosos pertencem à chamada “fase dourada”, na qual mais uma vez retratou preferencialmente mulheres, de forma quase figurativista, mas em que as figuras humanas são adornadas por espirais, arabescos, pequenos objetos e formas geométricas, outorgando brilhantismo ao incluir a suntuosidade de folhas de ouro e prata em telas inspiradas nos mosaicos bizantinos. Muitas vezes, os aspectos naturalistas das mãos e corpos contrastam com o fundo exuberante e fantasioso.

Klimt não gostava de se autoretratar. Uma pintura sobre ele fora feita por Egon Schiele, em 1912 mostrando-o em sua túnica azul. Klimt mantinha sempre sua barba e usava demasiadamente suas túnicas. Também, em 1912, Schiele prestou homenagem à sua amizade com Klimt, no quadro OS EREMITAS: Egon Schiele e Gustav Kimt (1902)

As últimas obras de Klimt voltaram-se para um lado mais erótico, claramente assumido. No seu atelier passeavam sempre algumas modelos nuas que ele observava enquanto prosseguia desenhando. Daí resulta mais de 3000 desenhos, e disto são exemplo os desenhos das suas modelos em poses e atitudes mais intimas: ”Mulher sentada com as coxas abertas”, “Adão e Eva”, ”A Noiva“ e “Masturbação feminina”. Na época, acusaram Klimt de sua excessiva ornamentação e erotismo. Para Klimt, a ornamentação enriquece o real.

Em decorrência de acidente vascular cerebral, em 11 de janeiro de 1917, o lado direito de seu corpo fora paralisado. Em 6 de fevereiro de 1918, falece aos 55 anos devido à uma pneumonia.


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Referências 

  1. Com. [Cited 2015, Jan 15] Available from: http://www.art.com/
  2. Oil panting reproductions. [Cited 2015, Jan 15] Available from: http://www.art.com/
  3. Flieldl, Gottfried. Gustav Klimt (1862-1918): O Mundo de Aparência Feminina. Editora TASCHEN DO BRASIL, 2006.
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